Para começar, você poderia contar um pouco a sua história?
Sou nascido e criado em Mogi. Sou filho de um comerciante nordestino e de uma paulistana que vieram vencer e ganhar a vida em Mogi. Sou gêmeo e por isso levo o nome de Bi Gêmeos. Isso surgiu em 2016 quando fui candidato e ninguém me conhecia pelo meu nome, Milton. Lançaram a campanha e Bi ia ficar muito vago. “O que é Bi?”. Era para ser “Bi do Gêmeos”, mas tiram o “do” e ficou Bi Gêmeos. Tenho um irmão gêmeo e fica Bi-Dú — eu sou o Bi e ele é o Dú.
Sou mogiano e amo essa cidade. Sempre fiz questão de ficar aqui. Tive outras oportunidades fora da cidade, mas sempre mantendo a raiz em Mogi. Estudei sempre em escola pública. Não pinguei em várias escolas: estudei no Coronel Almeida e depois fui para o Washington Luis. Fiz minha faculdade em São Paulo, na Barra Funda, mas em nenhum momento fui morar lá. Fiz sempre questão de voltar.
Sou muito apegado a família e sempre quis ficar perto dos meus pais e do meu irmão. Também fui trabalhar em São Paulo e quis voltar para Mogi. Nunca encarei o desafio de ficar longe da cidade. Gosto da cidade. Sou o mogiano padrão.
Esta é a primeira vez que você é eleito para a Câmara de Vereadores. As pessoas, principalmente os mais jovens, não gostam de política, e você tem apenas 32 anos. Dentro deste cenário, por que você decidiu se candidatar?
Eu brinco que meu pai, de um jeito muito humilde porque ele só tem até a 5ª série, era apaixonado por política, mas ele não entendia. Eu e meu irmão sempre andávamos com meu pai em showmício e os comícios. A gente pegava os panfletos e entregava e sempre estávamos no meio, brincando, sempre andando em comitê e vendo santinho em casa de algum candidato que meu pai apoiava — ele chegou até a ser candidato quando a gente era muito criança.
A política sempre esteve muito presente em casa. Por exemplo: a foto de casamento dos meus pais eles estão dentro de um carro e os vidros estão pintados com o Chico Nogueira para prefeito. Por essa presença, a política despertou em mim e no meu irmão a sempre acompanhar o que acontecia na cidade.
Chegou um momento que meu pai chegava em casa e falava “a gente vai apoiar o candidato X”, mas a gente já tinha idade de votar. Tínhamos um posicionamento e entendíamos da nossa forma. Houve então o questionamento ao meu pai: “mas por que o X? Vota no Y, pai”. Eu e meu irmão sempre gostamos de política e vem daí o desejo.
Quando a gente começou a ver os políticos da cidade — sabendo que nenhum vai agradar ninguém 100% — falei: “Tenho que ir para essa luta. Não quero mais ser telespectador nessa disputa. Quero ser ativo”. Decidi então ser candidato.
Eu e meu irmão sempre juntos, conversando, e falamos: “Vamos?”. Em 2012, quis ser candidato e cheguei a me filiar, mas ainda estava na faculdade e achei não era o momento de dividir campanha e faculdade. Infelizmente meu pai não viu a gente disputar a primeira eleição porque ele faleceu em 2014.
Mas foi só você? Seu irmão entrou?
Só eu. Meu irmão gosta de campanha, é a pessoa que mais converso sobre política, tanto estrategicamente quanto do que a gente vai fazer e sobre opiniões. É meu braço direito, gêmeo mesmo. Mas ele não gosta de holofote. Sempre foi bastidores. Quanto mais, melhor.
Neste seu primeiro mandato, o que as pessoas podem esperar de você?
Acredito e sou defensor da política participativa, mesmo que essa palavra já esteja um pouco manjada. Quando digo participativa é um mandato onde as pessoas tenham opinião para sugerir, onde elas vão entender qual é o papel do vereador e qual a nossa responsabilidade. A gente vê que as pessoas estão chegando para ajudar, mas com o pensamento errado da política e do vereador. Queremos doutrinar, não partidariamente, e mostrar o que efetivamente a gente faz.
Você acha que vai encontrar muitos problemas por ser o seu primeiro mandato?
Sou da teoria do copo estar sempre cheio. Estou muito otimista do que vai acontecer. A renovação foi muito grande na Câmara e vejo isso com bons olhos. São pessoas novas chegando que entendem que existe um novo jeito de fazer política. Eu não falo de política certa: falo de política correta e, consequentemente, a do bem.
Não acho que vai ter resistência [por ser o primeiro mandato]. Os novos vem de um cenário diferente de quem estava fazendo a mesmice e ficou de fora. Se você não inovar, você também vai ficar de fora. Sou um cara que pensa mais pra frente. Acredito que quando surgirem boas ideias, todo mundo vai junto, e quando eu tiver boas ideias, quero colocar para os outros virem comigo.
Vi que você tem um relacionamento com o Caio Cunha mais próximo, mas por uma questão partidária, você não esteve ao lado dele nas eleições municipais. Queria que você contasse essa sua relação e o que você espera do mandato do novo prefeito.
Não te corrigindo, mas estive com o Caio desde o 1º turno. Meu partido sabia e todos sabiam. A gente sempre esteve junto tanto no 1º mandato quanto no 2º mandato dele. Espero que o Caio dê uma atenção, e ele já está dando, para a Câmara porque antes eram muitos favores. Como ele tem a experiência da Casa, ele sabe como é o mecanismo correto para trabalhar e para a cidade ganhar com isso.
O Caio sabe que aqui não precisa ter a visão de inimigos e nem a de melhores amigos. Tem que ter respeito e isso acredito que vai vir muito dele.
Essa política participativa e transparente onde todo mundo tem informação é boa porque, o que propusemos na Câmara, tenho certeza que vai estar acontecendo na Prefeitura. Isso me empolga muito por um novo tempo político na cidade.
Na Câmara, acredito que há mais diversidade neste momento. Como você enxerga isso? Além disso, queria falar do PSD: o partido é forte na cidade, tem uma base forte dentro da Câmara e tem o presidente da Casa, o vereador Otto Rezende. Como você enxerga a atuação do PSD neste mandato?
Sobre a diversidade, acho que o mundo caminha por mais diversidade. Daqui a pouco vai chegar um ponto que não terão mais bandeiras: é tudo tão diferente que não vai ter. Hoje a gente ainda pontua as bandeiras X ou Y, mas vamos ter tantas que vai acabar. Não vai existir mais classes e acho isso muito bom. Isso valoriza a democracia e aprendizado.
Aprendo com as pessoas que enxergam de outra forma. Eu gosto disso e sou um cara muito aberto: posso não concordar com o posicionamento de outra pessoa, mas quero entender e isso é muito válido para a evolução humana, para a minha evolução pessoal e para eu enxergar a cidade não apenas em um núcleo, mas para todos.
Quanto ao PSD é um partido forte, de centro e hoje é o 3º maior do país. O que faz o partido ser isso tudo é diálogo, não ter o extremista, nem de esquerda nem de direita, mas ouvir os dois lados. Não é ficar em cima do muro porque quem faz isso não tem opinião, mas quem também toma um lado extremista, não vai trabalhar e não vai dialogar com o outro lado.
Gosto do PSD com a presidência da Câmara por ter esse posicionamento de ouvir todo mundo e acredito que o mandato do Otto é o melhor no momento por causa dessa renovação tão grande. Ele precisa ouvir todo mundo.
Durante a posse deste ano, a vereadora Inês Paz (PSOL) se candidatou à presidência da Casa e você votou no seu companheiro de bancada o vereador Otto Rezende. Mas você também deixou claro que gostaria que a Câmara tivesse uma presidenta. Queria que você falasse um pouco sobre este aumento da representatividade feminina e o quão importante é a Casa ter uma mulher no comando.
Tenho um compromisso na minha campanha de ter a participação da mulher e isso é fundamental. É válido e a gente precisa de uma presidente mulher neste mandato e isso já me coloquei à disposição. Em algum momento, a gente vai ter que ter a Inês, a Fernanda ou a Malu.
Acho que tem que ter a representatividade feminina e a mulher precisa estar mais próxima da política. Não adianta você falar que está dando porcentagem para a mulher se você não tem diálogo com ela. Estou totalmente aberto e acho extremamente necessário uma mulher como presidente. Isso nunca teve na história da Câmara e precisa acontecer.
Uma prova disso, e não apenas pelo olhar feminino, é porque a população precisa de novas atitudes. Se existem 14 novos vereadores é porque o mogiano quer algo novo.
Sobre o diálogo, você falou de ouvir os dois lados, por exemplo, mas a Câmara está bem diversa. Como isso será possível? Acredita que vocês vão conseguir ouvir todo mundo e chegar em um ponto comum? Você acha que o diálogo vai ser difícil?
Sou muito otimista e acredito que vai ser fácil. Os vereadores têm que entender que, agora, não existe partido. Tem o partido que é o bem e o melhor para a cidade. E isso tem que prevalecer. Não tem que olhar o seu umbigo ou o seu partido. Aqui dentro a gente tem que fazer a política do bem.
Tendo este início, o diálogo vai acontecer olhando o melhor para a maioria, mas sem esquecer da minoria. Isso tem que ser bem enfatizado: não podemos esquecer da minoria — ela precisa ser vista.
É colocar todo mundo junto e deixar todo mundo falar. Não adianta a gente dizer que vai ter um diálogo com todos e em uma mesa só os mesmos falarem. Precisamos chamar para a conversa. Se você ver um vereador parado, sem dialogar, você tem falar: “Fulano, qual a sua opinião?”. Chama que vai ser válido.
Você acredita que isso vai ser uma característica da Câmara?
Acredito que sim. Nesta nova gestão e com essa renovação, vai ser uma renovação de diálogo.
Você é de família comerciante e a pandemia atrapalhou muito a vida dos empresários, principalmente os menores. Como você vê todo este cenário e o que você acha que precisa ser feito para ajudar esses comerciantes?
Acho que o erro foi lá atrás. No começo da flexibilização, do que fecha e o que abre, acredito que faltou uma fiscalização para a gente ter feito uma quarentena mais firme. A quarentena que foi feita no ano passado, quando mandavam fechar tudo e aí tinham.
Sou a favor, hoje, de não restringir o horário. Acho que quanto mais aberto o comércio, mais espalhado fica para o pessoal usar. Sou contra essa limitação que o governo colocou. Porém, pela má quarentena que foi feita, hoje é necessária uma atitude radical. Não é o que eu quero e nem é o melhor caminho, mas é necessário fazer alguma coisa firme.
Se for fazer uma fase vermelha, que seja durante 15 dias e feche tudo, só deixa aberto o que precisa. Mas feche mesmo, tudo. Eu, como comerciante, prefiro ficar 15 dias fechado e depois voltar a trabalhar normalmente. O que não pode acontecer é esse vai e volta, libera até às 17h, depois até às 20h e assim vai. A gente não sabe nem como se preparar.
Entendo também que, por outro lado, têm famílias que dependem do comércio. Por isso que precisa de uma atitude firme e única. “Vamos fechar durante 15 ou 20 dias?”. Fecha, não abre e depois a gente volta a trabalhar. O que não pode é flexibilizar no meio do caminho.
Você é muito próximo do deputado federal Marco Bertaiolli (PSD-SP). Qual a importância dele para a sua carreira e o seu mandato? E como ele pode ajudar os seus trabalhos na Câmara?
Falar do Marco é falar do prefeito que teve a maior aprovação da história de Mogi e quem tem isso é porque tem competência e fez uma boa gestão.
Ficou claro a importância da gente ter um deputado defendendo e trazendo recursos para Mogi. Ele deixa bem claro que a defesa dele é a cidade e a Mogianidade que ele levanta é para os mogianos terem uma vida melhor. Independente de quem entrou, o deputado está trazendo emendas e isso mostra o quanto é importante para a cidade ter um representante em Brasília. A gente conseguiu com o Junji ocupar o cargo do Maluf, mas é bom ter um com mandato completo e que esteja quatro anos defendendo Mogi.
Com essa representatividade do Marco em Brasília, a gente na Câmara tem um respaldo e uma articulação direta com ele. Tem ainda o fato dele ter um relacionamento muito bom com o governo do Estado e isso faz com que a gente tenha um diálogo positivo com o governador e com os secretários. A figura do Marco é principal na cidade por representar a população e ajudar o Legislativo e o Executivo.
Quais serão os pilares que você mais vai defender em seu mandato?
A gente vai atender tudo, mas pretendemos ter alguns. Uma bandeira que deixo bem claro é a da Educação e sou prova de que ela transforma vidas.
O primeiro emprego de jovem também será uma bandeira, como o Jovem Aprendiz, que eu fui um. Eu e a minha família somos provas vivas da Amoa (Associação Mogiana Oficina dos Aprendizes): meu irmão também foi um aprendiz e está no emprego dele até hoje na Valtra.. Essas duas são as principais.
Tem também o primeiro empresário: aquela pessoa que está saindo da faculdade e vai montar sua empresa. Vamos dar a oportunidade para ela com a criação de leis que incentivem o jovem a abrir o seu próprio negócio.
E também não podemos esquecer da Saúde, até por termos muita gente ligada ao setor que está próxima ao nosso mandato.
Qual o legado que você quer deixar para a população?
O primeiro é que é possível, por mais clichê que seja falar isso. Lembro do meu pai andando com grandes figuras políticas e, no começo, eu achava que não tinha como chegar até aqui.
Outro é que você tem que se preparar. Não adianta só você chegar. No meu caso, por exemplo, fiz graduação e uma pós-graduação em Gestão Pública. O legado é: se você acreditar e se preparar, você chega, mas para você manter, você tem que trabalhar e ter um mandato com pessoas participando e transparente.
Referência: Medium
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